Devoção ao Coração de Jesus tem de deixar as imagens «kitsch» e encontrar tesouros ainda por mostrar
Provincial dos jesuítas em Portugal considera que «a devoção ao Coração de Jesus precisa de ter liberdade e coragem para dizer adeus a si mesma». O provincial da Companhia de Jesus afirmou hoje que a devoção ao Sagrado Coração de Jesus deve deixar as “imagens ‘kitsch’” e encontrar “os seus tesouros” ainda por mostrar “à fé cristã” e ao mundo. “As imagens ‘kitsch’ que deixaram de mostrar o afeto essencial tornaram-se indiferentes para muitos que passam ao largo destas imagens, ridicularizando ou rejeitando”, reconheceu o padre José Frazão Correia no Colóquio realizado no contexto dos 175 anos do Apostolado de Oração, agora Rede Mundial de Oração do Papa. Numa conferência sobre a “Atualidade da espiritualidade do Coração de Jesus e desafios pastorais”, o provincial dos jesuítas em Portugal disse que não basta “repetir-se a si mesmo”, mas é preciso “propor novas leituras e contextos” sob o perigo de deixar de “ser símbolo para ser imagem descolorada, imagem abstrata de um amor incapaz de tocar a vida dos crentes”. “A devoção ao Coração de Jesus precisa de ter liberdade e coragem para dizer adeus a si mesma”, sublinhou. Para o padre José Frazão Correia, a devoção ao “Coração de Jesus” guarda “muitos tesouros que ainda não foram suficientemente expostos, sendo eles o que a fé cristã mais precisa de mostrar à vida dos crentes, num tempo em que a Igreja deve viver em saída, nas periferias, na realidade concreta das vidas e das famílias”. Recordando a origem do culto ao Coração de Jesus “num contexto particular que já não existe”, o conferencista sublinhou o contributo a uma “fé viva e sensata, que vive e faz viver e também que ajuda a Igreja a centrar a sua fé”. “Não basta ensinar doutrina e cumprir regras mas importa iniciar e cultivar o Jesus evangélico para conhecer o seu íntimo coração, para de uma personagem vaga do passado passar a ser o filho incarnado”, indicou. O sacerdote jesuíta apontou como “necessidade pastoral” a celebração litúrgica da fé, “comunitária, inteligente, criativa e sóbria”. “Cumprir uma obrigação releva cansaço e frustração e os ritos do passado, e antecedentes ao Concílio Vaticano II não me parecem o caminho”, afirmou. Para o padre José Frazão Correia é necessário uma atenção “ao que hoje coze o coração das vidas”, pois só assim “a devoção poderá ser verdadeira”, começando por “despertar e cultivar a atenção, num tempo saturado de imagens e experiência, e iniciar a sabedoria do tempo, da espera”. “Se falharmos, seja por amar por excesso. A Igreja em geral peca mais por defeito do que por excesso”, concluiu provincial da Companhia de Jesus em Portugal. O Colóquio sobre o Coração de Jesus decorreu hoje em Fátima este e, este domingo, realiza-se no Santuário a Peregrinação Nacional do Apostolado de Oração e o encerramento do Ano Missionário. G.I./Ecclesia:LS/PR