Encontro Nacional de Leigos debateu santidade e «ousadia de vida»
«Praça Central» refletiu sobre desafios deixados pelo Papa Francisco. A reitora da Universidade Católica Portuguesa (UCP) e o provincial da Companhia de Jesus (Jesuítas) em Portugal abriram ontem em Santarém o V Encontro Nacional de Leigos (ENL), com um debate sobre santidade e “ousadia” de vida. Isabel Capeloa Gil, reitora da UCP, falou da santidade como uma prática do quotidiano, “nos pequenos gestos” e face a quem “interpela pela sua radical diferença”. Num debate com moderação do jornalista António Marujo, o padre José Frazão Correia sustentou que “a santidade não pode ser menos do que uma ousadia de vida”. O V Encontro Nacional de Leigos apresentou-se como um dia de reflexão sobre Cristianismo, Sociedade e Cultura com o nome de “Praça Central”. O tema “’Prometo que hei de viver a vida em pleno e ate? ao fim’: os desafios a? vida e a? santidade hoje” foi inspirado em Etty Hillesum, jovem judia holandesa que morreu em Auschwitz em 1943, e na exortação apostólica do Papa Francisco dedicada à santidade, ‘Gaudete et Exsultate’ (Alegrai-vos e Exultai). A reitor da UCP apontou, perante centenas de participantes, ao “desafio do despojamento” e de entender a santidade como “abertura ao outro”. “Não se trata de um ideal inalcançável”, mas uma prática, “sempre difícil” e “cheia de perguntas”, precisou Isabel Capeloa Gil. Já o provincial dos Jesuítas em Portugal sublinhou que a exortação do Papa sobre a santidade é texto “desconcertante” que pode ser lido por todos, cristãos e não cristãos, com o desafio a “viver com todo o risco que a vida tem”, para “vivê-la bem”. “A santidade nasce na convicção de que somos amados”, indicou. O padre José Frazão Correia definiu o pecado como “ficar aquém da possibilidade”. O debate abordou questões ligadas à santidade no mundo do trabalho, da política e da economia. “O outro não se anula, acolhe-se”, defendeu o provincial dos Jesuítas. Isabel Capeloa Gil, por sua vez, assinalou que a santidade implica “amar o outro de uma forma absolutamente despojada”. Na segunda conferência, os participantes ouviram o testemunho do ator italiano Pietro Sarubbi, que fez o papel de Barrabás, na “Paixão de Cristo”, de Mel Gibson, filme que marcou a sua “conversão”, a partir da atenção ao “olhar” de Jesus. “O olhar de Cristo nunca se perde”, sustentou. O convidado assumiu que vivia um momento de infelicidade e revolta, apesar do sucesso e do dinheiro, sendo conhecido “como ator violento”. Após assumir publicamente a sua conversão, relatou, perdeu “90% do trabalho no Cinema, na Televisão, no Teatro”, muitas vezes “de um dia para o outro”. “O cristão concreto, evidente – não em sua casa, escondida, que vai à Missa ao domingo -, o soldado do Senhor, que não combate pela guerra, mas combate pela paz, é muito incómodo”, declarou, numa intervenção aplaudida pela assembleia. Linda Ghisoni, colaboradora do Papa Francisco no Dicastério para os Leigos, Família e Vida, falou em seguida do “chamamento a ser santo”, que apresentou como “o chamamento a cantar a partitura do Evangelho” e “incarnar na vida concreta a Palavra de Deus”. A responsável falou da consciência de uma missão maior, que dá “sentido” a todas as escolhas particulares, de cada dia. “O compromisso diário, neste sentido, nesta dinâmica”, é o chamamento à santidade, acrescentou. Durante a tarde, o programa incluiu debates, concerto e visitas culturais, comunicações, conversas, workshops e oração no Santuário do Santíssimo Milagre. O novo núncio apostólico em Portugal, D. Ivo Scapolo, presidiu à Missa conclusiva do V Encontro Nacional de Leigos, na Catedral de Santarém. A ‘Praça Central’ terminou com o concerto de Joana Espadinha, no Teatro Sá da Bandeira. A Conferência Nacional do Apostolado de Leigos que reúne organismos, associações e movimentos de leigos de todo o país, promove este encontro que já se realizou nas Dioceses de Coimbra, Porto, Évora e Viseu. G.I./Ecclesia:OC