À conversa com Padre Abel Ferreira Rodrigues, nos 25 anos de sacerdócio

 

1. O lema da minha ordenação foi “Eis-me aqui: Podeis enviar-me” (Is 6,9).

E hoje leio-o da mesma forma que o lia há 25 anos, com a consciência de que a disponibilidade que me é pedida é a mesma. Agora, contudo, vejo com mais clarividência que é necessário realmente um coração muito disponível e capaz de se desprender de muitas coisas/realidades para responder de forma generosa a Deus que me continua a chamar em cada dia para ser trabalhador da sua messe. As resistências a esta disponibilidade tendem a querer ganhar espaço em nós. Por isso, procuro manter vivo em mim este lema escolhido, para seguir adiante na minha entrega a Cristo e à Igreja.  

2. Nestes 25 anos de sacerdócio, a forma como vejo a Igreja é, essencialmente, como ‘Casa’ de comunhão, da qual, quanto mais for pedra viva, mais ajudo à sua edificação. Uma comunhão que me leva a fazer o exercício diário de que não posso pensar apenas em mim ou na minha ‘quinta’. Não somos donos de nada. Apenas humildes servos de uma realidade que é maior do que nós, à qual decidimos entregar a nossa vida, e que existe para bem da Humanidade. Esta é outra dimensão que vou procurando ter presente, pois é pelo bem do Povo de Deus que faz sentido a vida sacerdotal.

 

3. Hoje, sentir-se chamado é continuar a dizer: ‘eis-me aqui’, conta comigo. É continuar a ter os olhos fixos em Jesus, que, em cada dia, me diz: “Segue-me”, cuidando que não esmoreça a vontade, no meio das fadigas do caminho.

 

4. Um episódio que me marcou, nestes anos, foi... não me é fácil responder, pois sinto sempre dificuldade em descrever memórias e acontecimentos pessoais... apenas posso dizer que fui sendo chamado ao longo destes anos para missões para as quais me senti sempre pequeno, as quais vou procurado cumprir o melhor que me é possível, confiando que não estou sozinho.

 

5. Para os próximos anos, sinto-me com vontade de continuar a dar o meu sim, pedindo a Deus que me ilumine e me dê forças para, no meio das minhas limitações e fragilidades, poder continuar, com generosidade, a servir a sua Igreja, reconhecendo que os desafios são cada vez maiores. Toda a evolução e mudanças que vamos presenciando na sociedade, num ritmo que não é fácil acompanhar, tornam cada vez mais exigente a missão de fazer passar a mensagem do Evangelho como resposta e caminho para este tempo.