Bispo
Diocese
Viseu
Igreja
Homilia da Solenidade de São Teotónio
18/02/2024
Por Liliana GI
Com um coração em festa, celebremos o dom da santidade em São Teotónio
Caríssimos sacerdotes, diáconos, consagrados(as) e leigos, meus irmãos e irmãs na fé. Saúdo-vos fraternalmente na paz, neste dia em que fazemos memória festiva da vida e do ministério sacerdotal de São Teotónio ao serviço da Igreja de Viseu, como nosso padroeiro.
“Naquele tempo, o Espírito Santo impeliu Jesus para o deserto…” (Mc 1, 12). Também o Espírito Santo chamou São Teotónio e enviou para a Igreja de Viseu. Também o Espírito Santo nos impele hoje a fazermos juntos o caminho que São Teotónio percorreu e nos legou numa herança espiritual e pastoral cheia de tradições eclesiais, que nos desafiam a todos no presente e no futuro.
Todos nós somos chamados a ser “evangelizadores com espírito” e a anunciar o Evangelho de Jesus ao povo da Diocese de Viseu, que nos está confiado com um novo ardor, uma nova linguagem e novos métodos.
A isto, chamou-lhe São João Paulo II de “Nova Evangelização”, mas para acontecer temos nós de, em primeiro lugar, acolher o chamamento de Deus, para depois vivermos a missão de anunciar o Evangelho e entregar a nossa vida ao serviço de todos.
Os presbíteros, os diáconos, os consagrados (as) e os leigos, temos diante de nós um exemplo específico, que nos abre horizontes para viver a missão da Igreja em continuidade e criatividade pastoral no cumprimento do mandato de Jesus: “Ide por todo o mundo e anunciai o Evangelho a todas as criaturas, ensinai-as e batizai-as em nome do Pai, do Filho e do Espírito Santo”.
A atualidade da vida e da pregação de São Teotónio passa por este “caminhar juntos” na fidelidade ao Evangelho, à renovação da vida pessoal e eclesial, na defesa da vida e promoção da dignidade da pessoa humana, ao serviço dos pobres, dos doentes e os excluídos da sociedade.
A vida e a santidade de São Teotónio marcaram profundamente a nossa cidade e a nossa Diocese, e, ainda hoje, nos desafiam a sermos fiéis à Palavra de Deus e ao serviço dos irmãos. Os ensinamentos de São Teotónio convidam-nos a sermos discípulos missionários empenhados na construção do Reino de Deus.
A Solenidade de São Teotónio vivida neste contexto litúrgico da caminhada quaresmal, leva-nos a acolher de novo a pregação de Jesus: “Cumpriu-se o tempo e está próximo o reino de Deus. Arrependei-vos e acreditai no Evangelho” (Mc 1,15).
O convite à conversão é motivo de alegria e de festa para todos presbíteros, diáconos, consagrados(as) e os leigos reunidos nesta Catedral para hoje celebramos como Mãe, Mestra e Educadora na fé, o Dia da Igreja Diocesana.
A Quaresma propõe-nos um caminho de conversão pessoal e comunitária
Jesus é conduzido pelo Espírito Santo ao deserto, onde jejua durante quarenta dias, acompanhado pela oração. O deserto volta a ser o lugar do primeiro amor. A conversão é um caminho privilegiado para experimentar o dom da salvação. A palavra deserto pode significar um deserto geográfico, mas sobretudo um deserto no sentido teológico.
Para a teologia bíblica o deserto tem sempre dois sentidos: por um lado é o lugar privilegiado de encontro com Deus, mas por outro lado é o lugar de “prova” de “tentação”, onde se pode “perder” a vida. A vida é esse deserto, esse lugar privilegiado de encontro com Deus, esse lugar onde os milagres se realizam, esse lugar onde a vida se transforma e os corações se convertem.
A Quaresma que iniciámos: “Faz-nos entrar no deserto, ó Senhor, sem medo e sem máscaras, e com o desejo sincero de purificar o coração… Que nunca nos vença ou convença, a tentação do desânimo, que não nos seduza a tentação da indiferença, que jamais nos vença a tentação da idolatria”. Faz nos entrar no deserto, ó Senhor, faz-nos chegar ao lugar do primeiro amor, ao terreno da intimidade onde o coração se converte e deixa tocar por Deus.
É na vida concreta e quotidiana que sentimos as tentações e as provações, o desejo de caminhar sem os outros e sem Deus, o lugar da indelicadeza e da arrogância, do poder e do auto-referencialismo, da violência, da indiferença, da injustiça, da guerra, do pecado e da maldição.
A missão de São Teotónio como profeta da esperança
Jesus envia-nos para anunciarmos os valores e os critérios do Reino de Deus, o Evangelho de Jesus. Jesus sabe que nós somos frágeis, que somos pecadores, por isso vem em auxílio da nossa fraqueza com a sua graça e misericórdia.
A mudança de época em que vivemos, com todas as suas consequências, convida-nos a empreender este caminho novo, com a ajuda e a proteção de São Teotónio segundo o espírito da “ecologia do coração”, de que tanto nos fala o Papa Francisco.
A Palavra de Deus ilumina-nos e faz-nos desafios pessoais e pastorais grandes. “Estabelecerei a minha aliança convosco, com a vossa descendência e com todos os seres vivos que vos acompanham”.
O caminho da Aliança, que todos nós de modo consciente estamos a fazer, deve renovar a nossa vida e a nossa Diocese no caminho para a Páscoa. Jesus Cristo é a Nova e Eterna Aliança selada com o Seu próprio Sangue, o Cordeiro Imolado sem mancha, que nos resgatou do pecado e nos deu a vida da graça.
Os apelos pastorais de São Teotónio à nossa Igreja Diocesana
Caríssimos sacerdotes, diáconos, consagrados(as) e leigos nós somos herdeiros do testamento espiritual e pastoral de São Teotónio profeta e evangelizador do seu povo na Igreja e na cidade de Viseu, que hoje nos coloca os seguintes desafios:
- Como sacerdotes, diáconos, consagrados(as) e leigos procuremos imitar a santidade de São Teotónio, sacerdote zeloso, alegre e acolhedor, disponível para todos com uma atenção preferencial pelos mais pobres, entregando a nossa vida ao serviço da Igreja com diligência e caridade.
- Com um coração agradecido e orante saibamos imitar as suas virtudes e com elas transformar o mundo e os ambientes eclesiais e sociais da nossa Diocese.
- Confiemos a São Teotónio a nossa vida, o nosso ministério, o nosso apostolado e peçamos-lhe a graça de cuidar de novo da nossa cidade e da Diocese com testemunho de conversão, de renovação pastoral e de dinamismo sinodal.
- Empenhemo-nos todos na mudança de coração e de vida cristã com estratégias de renovação eclesial das comunidades, das estruturas e dos serviços diocesanos.
- Peçamos a intercessão de São Teotónio junto de Deus, pelo povo que nos está confiado, de modo a crescermos na fé, na confiança, na gratidão, no louvor e na ação de graças.
- Aproveitemos o caminho quaresmal que estamos a viver e a fazer juntos no chamamento à conversão, à penitência, à oração e ao jejum e que realize em nós a experiência sinodal do “enraizamento em Cristo”.
- Como Igreja Diocesana vivamos a experiência espiritual da fé e o testemunho cristão em profunda comunhão com Deus e com o próximo.